Gaspare Berri nasceu em 9 de julho de 1845, sendo filho de Vicenzo Berri e Catterina Camera. Sua terra natal é a comuna de Suardi (atual província de Pávia e região da Lombardia), mas que na época pertencia ao Reino do Piemonte, pois a Itália não havia se unificado como uma nação moderna, sendo dividida em vários pequenos reinos de língua italiana. Quando moço, inclusive, Gaspare participou ativamente como militar nos movimentos bélicos pela unificação da Itália, expulsando os exércitos austríacos.
Em 1875, aos 30 anos de idade, resolveu se juntar a um grupo de emigrantes do Tirol Italiano/Trentino (Império Austro-Húngaro) que partiam para o Brasil. Ainda na embarcação, enamorou-se por Maddalena Tomelin (natural de Fornace, Tirol, Áustria-Hungria), com quem casou em Blumenau em 2 de outubro de 1875, embora um pouco a contragosto da jovem de então 16 anos. O casal se instalou no lote 47 em São Virgílio (Rodeio 50) e teve 13 filhos:
- Vicenzo (1877): nasceu em São Virgílio, casou-se com Genovefa Tamanini, sendo vizinho de Constante Pisetta. Sua esposa faleceu em 1917, casando-se novamente com Rosa Tassi.
- Vitório (1878): casou-se com Carolina Pisetta e tiveram 14 filhos, sendo os mais conhecidos Lino (que se tornou Frei Câncio) e Celso Berri, que foi um importante empresário da cidade e candidato a prefeito no pleito de 1960. Vitório foi membro da Sociedade Cooperativa São José (Rodeio 50), sendo inclusive presidente da mesma.
- Felice (1881): casou-se em 1906 com Melânia Pisetta, com quem teve 11 filhos, dos quais três se tornaram padres: Maximino (Frei Ermínio), Eugênio (Frei Sílvio) e Inácio (Frei Policarpo).
- Enriqueta (1884): casou-se com Beniamino Conzatti, com quem teve 8 filhos.
- Matilde (1885): casou-se com Marino Anderle, com quem teve 13 filhos.
- Umberto (1888): casou-se com Maria Pisetta, com quem teve 10 filhos.
- Anselmo (1890): casou-se com Verônica Pisetta, com quem teve 11 filhos, sendo o mais conhecido Aléssio Berri, que foi um importante estudioso sobre o passado dos primeiros imigrantes, publicando vários livros. Exemplo desses livros é a “Genealogia da família Berri e Pisetta” (1983), “A Igreja na Colonização no Médio Vale” (1988) e “Imigrantes italianos: criadores de riqueza (1993).
- Sídia (1892): casou-se com Fiorílio Fachini, com quem teve 13 filhos.
- Rafaele (1894): casou-se com Adélia Pacher, com quem teve 14 filhos.
- Elíseo (1896): casou-se com Clementina Scoz, com quem teve 8 filhos, mudaram-se para Rio do Oeste em 1905.
- Ângelo (1897): viveu por quase dois anos no Rio Grande do Sul, quando regressou casou-se com Maria Pacher, com quem teve 8 filhos.
- Ana (1899): casou-se com Luigi Dallarosa, com quem teve 7 filhos.
- Serafina (1903): casou-se com Francisco Dallarosa e tiveram 12 filhos.
Com a morte da esposa, casou-se novamente em 1913, com sua sobrinha Adelaide Berri. Deste casamento surgiu mais 4 filhos, sendo eles:
- Amadeu (?): viveu da roça, não se casou e faleceu solteiro.
- Orestes (?): casou-se com Celestina Lorenzi e tiveram 4 filhos
- Artur (?): faleceu ainda pequeno.
- Carmela (?): faleceu aos 4 anos de idade.
Ao todo Gaspare teve 17 filhos e 155 netos. Em muitas ocasiões, Gaspare demonstrava abertamente seu sentimento de italianidade, principalmente ao entrar em contato com a maioria tirolesa (trentina) de Rodeio, que eram de nacionalidade austríaca. Em São Virgílio, Gaspare era o único italiano existente e, em certas circunstâncias, alguns elementos tiroleses para provocá-lo gritaram: “Viva L’Austria” e ele tirando o chapéu, gritava mais alto: “Viva L’Italia! Viva il re Vittorio Emmanoele!” Defendia ardosamente Garibaldi, Napoleão e os reis da Itália dos quais mantinha quadros espalhados pelas paredes da casa. Coitado daquele que ousasse falar mal desses personagens. Era motivo de briga.
Gaspare era católico, mas às vezes demonstrava relaxamento na frequência à missa e aos sacramentos da confissão e comunhão. Era simpatizante de algumas ideias mais liberais e socialistas, bastante comuns entre os italianos da época, sendo grande amigo do Dr. Giovanni Rossi, veterinário de origem toscana que vivia em Rio dos Cedros e de Ermembergo Pellizzeti, que vivia em Ascurra e era presidente da Comissão Escolar “Dante Alighieri”, ambos tinham problemas com o clero franciscanos. Entretanto, também se dava muito bem com Frei Lucínio Korte e Frei Policarpo Schuhen. De todo modo, Gaspare foi uma das figuras mais interessantes, peculiares e irreverentes da comunidade rodeense em seus primeiros tempos. Faleceu em fevereiro de 1920, com 74 anos.
