Lucínio Korte, nasceu no dia 1º de julho de 1866, em Erwitte (Alemanha). Era de estatura abaixo da média, mas tinha uma personalidade muito forte. Ainda jovem entrou para o Noviciado Franciscano e por volta de 1891 chegou ao Brasil junto com uma Missão Franciscana na cidade de Teresópolis, Santa Catarina (atual Águas Mornas). Em 13 de março de 1892, chegou a Blumenau junto de outros dois padres recém-formados (Frei Amando Bahlmann e Frei Zeno Walbroehl), onde recebeu a tarefa de celebrar os ritos religiosos nas comunidades de língua italiana, especialmente em Rodeio, Ascurra e Rio dos Cedros. Cabe mencionar, que apesar de ser alemão, havia estudado por pouco mais de um ano em Roma, o que lhe rendeu algum conhecimento mínimo no idioma, o suficiente para se comunicar com a população, apesar das variedades linguísticas presentes nos diferentes dialetos falados na região.
No ano de 1893, passou a residir na escola paroquial em Rodeio, junto do irmão leigo Germano Wunsick, que ministrava as aulas em italiano. Em 1894, liderou o início da construção da atual Igreja Matriz de Rodeio, que contou com a mão de obra e custeio dos próprios imigrantes. Nesse mesmo ano, Frei Lucínio foi transferido temporariamente para a Bahia, regressando já no ano seguinte. Em 1895, Rodeio passou a ser residência fixa da Ordem dos Franciscanos Menores (OFM) e Frei Lucínio ficou responsável por registrar os casamentos, óbitos e demais atividades, que antes eram registrados em Blumenau. Esses documentos são encontrados na secretaria da Paróquia sob a boa caligrafia do frade. Em 2 de fevereiro de 1898 foi realizada uma celebração em honra a “pedra fundamental” da Igreja Matriz, a missa foi presidida por Lucínio Korte, e os sermões rezados em italiano, português e polonês, com colaboração de outros padres. No dia 4 de junho de 1899 a Igreja foi benta e inaugurada, recebendo como patrono São Francisco de Assis, também padroeiro da Ordem Franciscana. A escolha do santo teve grande influência de Frei Lucínio Korte, já que a primeira padroeira fora Nossa Senhora das Dores (Dolorata).
Em 22 de abril Rodeio se tornou Pároquia, e Frei Lucínio Korte foi escolhido para ser o pároco (vigário) desta comunidade religiosa que abrangia não só os atuais limites de Rodeio, mas também Ascurra, Rio dos Cedros, Jaraguá do Sul e Rio do Sul. Sua atuação foi implacável quanto a questão escolar, aumentando significantemente o número de escolas paroquiais nos quatro cantos da comunidade religiosa. Foi durante seu paroquiado que foi adquirido os sinos, inaugurados em 1º de janeiro de 1904. Ainda em 1904, fundou com auxílio de Frei Fidelis Kamp, o periódico L’Amico, redigido em italiano e que tratava de assuntos religiosos, mas também cotidianos. Em dezembro do mesmo ano, Frei Lucínio Korte deixou Rodeio para se tornar ministro provincial dos franciscanos em Petrópolis (RJ),
Regressou para Rodeio ainda em 1907, sendo designado novamente como pároco desta comunidade, cargo que foi ocupado até 1909. Antes mesmo de seu retorno, quando estava ainda em Petrópolis, Frei Lucínio conseguiu garantir a vinda de um órgão de tubos doada pelo Sr. Friedrich Lautermann, de Sterkrade (Alemanha), este senhor era avô de um frade franciscano. O órgão que era um dos únicos de Santa Catarina e um dos maiores do Sul do Brasil chegou em Rodeio em dezembro de 1906, sendo inaugurado em janeiro do ano seguinte, com o retorno de Korte.
Importante mencionar sua atuação não apenas nas escolas, onde era inspetor perpétuo das escolas paroquiais, mas também no incentivo às cooperativas em Rodeio, que serviam para sobrevivência da comunidade no campo agrícola e econômico. Também se envolveu em várias disputas políticas e religiosas, especialmente com as localidades de Ascurra e Rio dos Cedros, que eram lideradas por figuras como Ermembergo Pellizzetti e Giovanni Rossi, que teciam duras críticas ao clero da época. Muitos eram os fiéis que acusavam Frei Lucínio de trapacear na escolha dos lugares onde as novas capelas seriam construídas, favorecendo onde havia uma maioria de trentinos, que em sua maioria, apoiavam mais facilmente os franciscanos do que os italianos de fato, que tinham grande rivalidade com os alemães, enquanto que os religiosos não aceitavam a tomada dos Estados Papais (Roma) pelos italianos em 20 de setembro de 1870, com a finalidade de tornar a Itália um reino unificado.
Em obra recente, intitulada de “A Sociedade da Capela: Trabalho, fé e educação no povoado de Rodeio (1883-1904)”, o historiador Gabriel Dalmolin chamou Korte de “pároco erudito”, não somente por se comunicar em três línguas: alemão, português e italiano, incentivar o ensino e a agricultura (sendo conhecedor de botânica), mas também por ser um exímio violinista e fotógrafo, incentivando a música na localidade e fotografando determinadas causalidades em Rodeio, como a onça (tìghera) encontrada no terreno da família Vendrami em São Pedrinho, no ano de 1914. Apesar de muitos não conhecerem, Frei Lucínio foi uma das figuras mais importantes da história rodeense, se envolvendo nos mais diferentes campos, não apenas religiosos, mas também pedagógico, artístico, social e econômico. Atualmente existe uma escola que recebe seu nome em Doutor Pedrinho, além de uma rua no bairro Rodeio 12, mesmo endereço da escola “Senador Francisco Benjamin Galotti”. Frei Lucínio Korte faleceu em 20 de junho de 1942 em Rodeio (aos 75 anos), localidade que viu crescer desde os primeiros tempos da colonização até tornar-se município. Em Rodeio, Frei Lucínio viveu metade de sua vida. Seu corpo foi sepultado no cemitério dos padres franciscanos, em Rodeio.
Trajetória de Lucínio Korte como religioso:
- 1884-1888 – Harreveld (Países Baixos)
- 1888-1889 – Düsseldorf (Alemanha)
- 1889-1890 – Roma (Itália)
- 1890-1891 – Paderborn (Alemanha)
- 1891-1892 – Águas Mornas/SC
- 1892-1894 – Blumenau/SC
- 1895-1904 – Rodeio/SC
- 1904-1907 – Petrópolis/RJ
- 1907-1909 – Rodeio/SC
- 1909-1911 – Santo Amaro da Imperatriz/SC
- 1911-1917 – Rodeio/SC
- 1917-1924 – Amparo/SP
- 1924-1926 – Santos/SP
- 1926-1942 – Rodeio/SC
Ao todo residiu em Rodeio durante 33 anos, atendendo também a comunidade durante os dois anos que viveu em Blumenau, totalizando 35 anos de serviço devotado a comunidade rodeense. Foi o único padre que teve a oportunidade de ser pároco de Rodeio em mais de uma oportunidade: (1900-1904 e 1907-1909).
